Tecido: Função Pragmática e Qualidade

Tecido: A Função Pragmática

Tecido: A Função Pragmática

    Pode dizer-se com toda a segurança que não existem tecidos sem uma finalidade, isto é, todos os tecidos são feitos para desempenharem uma fun­ção, mesmo que essa função seja decorativa ou predominantemente simbó­lica. Diremos então que eles têm uma função estética ou uma função presentativa, tal como já foi suficientemente exposto nos capítulos anteriores.

    Mas existem as funções caracteristicamente pragmáticas, que são as diversas utilizações práticas que os tecidos podem ter e para o desempenho das quais eles são especialmente concebidos pelo designer.
    Essas utilizações vão desde o vestuário, ao desporto, à indústria e agri­cultura, onde muitos tecidos desempenham funções específicas que só eles podem realizar eficazmente. Quanto à sua utilização pragmática os tecidos podem ser classificados do seguinte modo:
    Tecidos para:          
  • VESTUÁRIO: 
    • de mulher
    • de homem
    • de criança
    • de bebé 
  • CASA 
    • decorativos
    • utilitários                  
  • DESPORTO
    • vestuário
    • equipamento                        
  •  HOSPITAIS
    • vestuário
    • cama
    • higiene
    • enfermagem
  • INDUSTRIA
    • vestuário
    • embalagem
    • revestimento
    • utensilagem
    • agricultura
    • etc.                 
  • GEOLOGIA
    • proteção
    • estabilização de solos
    • etc.
                                                                       
    Pode ainda falar-se em tecidos para actividades industriais especiais como por exemplo a indústria hoteleira em que a roupa de quarto deve ser submetida a um elevado número de lavagens; ou para desempenharem fun­ções específicas em actividades e circunstâncias excepcionais, como os fatos espaciais para os astronautas. Os tecidos usados nos brinquedos constituem também um uso específico.
    Outra perspectiva falar-nos-á de tecidos para uso em locais públicos (teatros, cinemas, restaurantes, boites, transportes colectivos, incluindo aviões, hotéis, hospitais, etc...) e para uso privado.
    Dentro de cada uma destas categorias poderemos estabelecer tipos de utilização e objectivos dessa utilização, entrando-se então numa vasta siste­matização cada vez mais fina e pormenorizada.
    Tal sistematização leva à discriminação e catalogação exaustiva de todos ~os artigos ou peças têxteis, quer para vestuário quer para qualquer dos outros fins, podendo atingir-se certamente alguns milhares de artigos com uso e formas características.
    Por exemplo um glossário de tecidos, incluindo nomes antigos e actuais, ou de peças de vestuário referindo os tecidos de que são feitos, será da maior utilidade para o designer têxtil. Isto porque caracterizar um tecido em relação ao seu uso é, no caso do vestuário, cada vez mais difícil e requer uma apu­rada sensibilidade quer dos tecidos em si próprios quer das variações impos­tas pela moda. Ë assim que, actualmente, nunca se pode afirmar categorica­mente se um certo tecido é para homem ou mulher, visto que os artigos e tradicionais divisões entre tecidos pára cada um dos sexos não têm mais a rigidez que outrora tinham. Isto reflecte uma maior flexibilidade no uso dos tecidos de vestuário, podendo muitas vezes um artigo “de senhora” dar ópti­mos casacos ou blusões de sport para rapaz e homem, ou artigos clássicos “de homem” (como por exemplo casimiras em penteado e efeitos de riscas de tecidos para calças) serem adoptados pela moda de senhora, para saias, cal­ças, tailleurs, etc...
    Com os tecidos Jacquard passa-se o mesmo, podendo ver-se tecidos “de decoração” usados em vestuário de alta moda, etc., etc., numa abertura de materiais, estilos e possibilidades estéticas que dependem apenas da criativi­dade dos designers. De facto a alteração ou transgressão do uso tradicional dum tecido, adaptando-o a novas funções e finalidades, deve ser considerada uma forma de criação de moda, quando o novo uso é de facto compatível com as outras características técnicas do tecido, como por exemplo, o peso/m2, as fibras de que se compõe, a solidez das cores, a estabilidade dimensional, e muitas outras mais.
    As características técnicas dos tecidos estão de facto ligadas à sua finali­dade e às condições de uso.
    É fácil de imaginar que um tecido para uma farda militar não deva ter as mesmas características que um tecido para um vestido de cocktail, e que estas serão diferentes dum sobretudo, ou dum fato de banho, ou de roupa interior para inverno, etc., etc.
  O estabelecimento e diferenciação destas características fazem-se geralmente através de especificações técnicas para cada artigo e do estabe­lecimento de métodos de ensaio laboratoriais para medição das característi­cas especificadas. A normalização, nacional e internacional, desempenha aqui um papel importante, definindo a terminologia, as unidades de medida e os métodos de ensaio a usar no laboratório têxtil, assim como os respectivos níveis de aceitação e recusa e as respectivas tolerâncias.
    As propriedades físicas e químicas a ensaiar são numerosíssimas, podendo criar-se novos ensaios, se isso for necessário, para melhor caracte­rizar os tecidos em relação aos seus usos.

A Qualidade dos Tecidos

A Qualidade dos Tecidos

    Uma noção ampla de qualidade dos tecidos não pode ficar-se pela noção tecnológica de “aptidão para o uso” por mais englobante que seja o signifi­cado que se dê à aptidão.

    Por seu lado o “uso” de um tecido não é meramente pragmático, como já foi referido e ilustrado.
Por isso é mais adequado falar-se em vários tipos de qualidades dos teci­dos relacionando-os com as funções que eles desempenham nas sociedades e segundo as expectativas dos seus utilizadores.
    De facto não é correcto dizer que um tecido leve de seda natural estam­pada é de melhor ou pior qualidade que uma sarja de lã e poliéster, porque eles se destinam a desempenhar diferentes funções. A seda terá funções esté­tica e presentativa predominantes, enquanto a sarja terá basicamente a fun­ção pragmática de ser transformada em calças de homem ou fardamentos com uso intenso e desgastaste.
  Dentro de cada um destes artigos é que haverá certamente tecidos de melhor ou pior qualidade, conforme os métodos de concepção e fabricação que forem empregados.
  Também a relação empírica que se tende a estabelecer entre preço alto e qualidade, não é uma correcta forma de tratar esta questão.
   Em primeiro lugar o preço só é alto ou baixo em relação à capacidade de compra do utilizador o que nada tem a ver com o tecido em si próprio.
    Já o mesmo se não pode dizer em relação ao valor de um tecido. Esse valor é definido pela relação qualidade/preço, sendo maior para o comprador e para um dado preço unitário, o valor do tecido adquirido, quanto maior for a sua qualidade.
    Do mesmo modo se baixar a qualidade, mas o preço se mantiver, o valor adquirido baixa também, visto que:  V= Q/P

    Optimizar a qualidade e/ou baixar o preço do metro do tecido produzido é a melhor maneira de incrementar as vendas, porque se aumenta o valor oferecido ao cliente. Os abaixamentos de preço unitário de venda que não resultarem dum cuidado estudo dos custos de produção não é todavia um caminho seguro, a médio prazo, (e talvez até a curto prazo) para assegurar a saúde económica da produção dos tecidos. A pressão da concorrência e a manutenção dos mercados já conquistados devem ser uma preocupação do designer de tecidos, embora tais decisões possam não ser inteiramente suas, principalmente nas empresas médias e grandes.
  Uma política comercial mais agressiva e de maior futuro é a melhoria da qualidade (ou das qualidades) dos tecidos, considerando essas melhorias, por exemplo na qualidade estética (desenho, cor, toque) como um valor acrescentando que o comprador recompensará com a sua preferência no momento da compra, principalmente se o preço não sofreu um aumento manifestamente excessivo.
   O comprador sentirá assim o maior valor da sua compra, porque o que ele deseja é obter a valorização do seu dinheiro através do tecido de quali­dade que adquiriu (value for money).
    Fica assim claro que o designer deve procurar conceber o tecido com os mínimos custos de produção e o máximo de qualidades possíveis - atingindo um equilíbrio que seja pragmático.
  Quanto ao preço de venda, esse dependerá da política comercial da empresa (mas.também da sua organização administrativa) e da capacidade econômica do mercado (para que a empresa trabalha) e da necessidade, capacidade ou desejo de aquisição do tecido.
    O designer, na sua consideração das qualidades dos tecidos que projecta fabricar deverá então proceder a uma análise segundo os cinco tipos de qua­lidade aplicáveis aos têxteis:

    a) “Qualidade dispendiosa” - depende dos materiais e/ou dos processos de produção que são em si próprios caros (ex.: matéria-prima muito cara; lentidão necessária do processo de fabricação; aplicação de tec­nologia muito sofisticada, etc.).

  b) “Qualidade conceptual” - depende da adaptação ou não do produto à finalidade a que se destina (função pragmática) - ex.: um tecido para vestuário de desporto, um fato de trabalho, um fato espacial, etc.

 c) “Qualidade de produção” - depende da conformidade ou não das propriedades do produto em relação com as especificações técnicas estabelecidas (NORMAS).

  d) “Qualidade estética” - depende do factor “design” que garante a con­cepção do produto mas também as suas características estéticas e a sua adequação às tendências colectivas e/ou individuais do gosto dos consumidores (MODA).

 e) “Qualidade comercial” - depende de todos os factores - apresen­tação, garantias, inovação, preço, que tornam o produto apetecível para o consumidor e lhe dá satisfação.
Estas cinco noções de qualidade devem relacionar-se com as três fun­ções dos têxteis (pragmática, presentativa, estética) determinando-se o seu equilíbrio em cada caso. Assim poder-se-ão desenhar gráficos de função­ - qualidade, características para os artigos em estudo.

    Alguns exemplos:
    A - Seda natural estampada para blusas de senhora
A Qualidade dos Tecidos

Fig. 

    À função pragmática estão ligadas as qualidades de produção (tecido perfeito); à estética a boa qualidade e inovação no desenho.
    A função presentativa refere-se à qualidade dispendiosa, isto é, o facto de ser seda natural.
   Sendo um artigo caro a qualidade conceptual deve ser também elevada, isto é, o tecido deve estar perfeitamente adaptado às expectativas de conforto de quem o usa.

    B - Sarja lã/poliéster para fardamentos
A Qualidade dos Tecidos

Fig. 


    Predominam neste caso as funções pragmática e presentativa que dependem da qualidade conceptual e da qualidade de produção. As outras qualidades não são tão importantes assim como a função estética por não se tratar de artigo de moda.

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