Tratamentos prévios do Algodão: Gasagem e Desencolagem

Tratamentos prévios do Algodão

    O objectivo das operações de tratamento prévio ou prepara­ção dos artigos têxteis é a eliminação nas fibras das impurezas que elas contêm e melhorar a estrutura do material de forma a melhor estar apto às operações posteriores de tingimento, estamparia e acabamento.

    Estas operações podem ser feitas em rama, em fio, em tecido ou mesmo após confecção, em casos particulares.

    Os tratamentos prévios para a fibra do algodão são os seguintes:

  • Gasagem;
  • Desencolagem;
  • Mercerização;
  • Fervura;
  • Branqueamento.

Gasagem do Algodão

Gasagem do Algodão

    A gasagem ou chamuscagem é uma operação destinada a eliminar as fibras soltas dos tecidos de algodão por queima.

    É normalmente a primeira operação realizada sobre o tecido após a tecelagem, pois é necessário que o tecido esteja bem seco. Podem ser utilizados dois métodos:

     Por passagem do tecido em contacto com um rolo ou placa de cobre ao rubro; é um processo pouco frequente, por necessitar de elevada quantidade de energia eléctrica.

    - Por passagem do tecido na proximidade imediata duma chama; dado que a chama é obtida por queima de gás, a operação é então designada por gasagem.

    O tecido pode ser submetido a um pré-aquecimento no qual é eliminada a humidade residual das fibras, podendo haver ainda uma caixa de limpeza, na qual são eliminados os pós e sujidade do tecido com um sistema de escovas e aspiração, aumentando assim a eficiência da operação. Segue-se a gasagem propriamente dita percorrendo o tecido um caminho segundo o qual as faces passam muito próximo da chama (em casos excep­cionais, pode gasar-se uma só face). Logo à saída da câmara é fundamental apagar todos os pontos de ignição. Isso pode ser feito por introdução do tecido em água ou, se não for conve­niente molhar o tecido, por ejecção de vapor ou esmagamento entre dois rolos.


    O controlo desta operação pode ser feito actuando sobre os seguintes parâmetros:
  • Pré-aquecimento;
  • Velocidade do tecido;
  • Altura da chama.
    Há que tomar os seguintes cuidados:
    - se o tecido tiver sido encolado com resinas sintéticas, há que evitar a fusão destes produtos, que acarretaria a sua penetração nas fibras e como tal a grande dificuldade na sua eliminação, podendo provocar manchas no tingimento.
    - se o tecido for em mistura poliester- algodão, há o perigo de fusão do poliester e o risco de endurecimento dos óleos de ensimagem das fibras, dificultando a sua eliminação posterior.

    Os problemas acima referidos serão evitados se se proceder à gasagem após o tingimento.
    A gasagem de tecidos de malha é pouco frequente. No entanto, existem já máquinas que permitem a sua realização.
    Como vantagem complementar da operação de gasagem, e de salientar a redução do fenómeno de formação de borboto (pilling).

    A gasagem faz:
     Elimina a pilosidade dos artigos que podem provocar “pilling” ou borboto;
    - Torna a estrutura do tecido mais limpa, mais macia e mais brilhante;
    - Reduz a tendência do tecido para se sujar;
    - Permite a obtenção de cores mais nítidas e contornos de estamparia mais bem definidos.

 Defeitos:
    Gasagem irregular (queimador não está regulado ao comprimento ou à largura, pode ainda provocar dobras ou vincos);
    Ataque térmico a fibras sensíveis;
    - Excesso de gasagem pode provocar perda de resistência ou até mesmo a rotura do tecido;
    - Pode ocorrer a formação de nódulos (emaranhados de fibras).

Desencolagem do Algodão

Desencolagem do Algodão

     
A eliminação da goma ou cola introduzida nos fios de teia é uma fase fundamental do tratamento prévio. É uma operação rea­lizada habitualmente após a gasagem.

    Temos a distinguir dois casos:
        a) Se o produto de encolagem for solúvel na água, como é o caso das resinas sintéticas e de certos derivados do amido, é suficiente uma lavagem alcalina com detergentes, operação simultânea com a eliminação de gorduras e ceras do algodão e de óleos de ensimagem do poliéster, referida adiante. Há apenas que ter cuidado com o tempo necessário para o inchamento das resinas sintéticas. Assim, se se introduzir um tecido encolado com álcool polívinílico em água quente, há um inchamento super­ficial instantâneo da resina que impede a penetração do banho de lavagem no interior da fibra. Neste caso, é portanto conveniente um inchamento prévio em água fria.

        b) Se o produto de encolagem for total ou parcialmente inso­lúvel, como é o caso dos produtos amiláceos, é necessário pro­ceder à sua eliminação por processos especiais. Com efeito, o amido tem uma estrutura muito semelhante à da celulose, e ape­nas por via enzimática é possível a sua eliminação eficaz sem degradar a celulose. É o único processo que permite reduzir o teor em amido a menos de 0,1% o que é fundamental normal­mente para o tingimento com corantes reactivos e o acabamento com resinas termoendurecíveis.

    Para o efeito utilizam-se as amilases, enzimas que na maioria dos casos são de origem bacteriana. Dado tratar-se duma reac­ção bioquímica, é fundamental que os valores de pH e tempera­tura sejam devidamente controlados para maior eficácia da sua acção. É também necessário evitar a presença de produtos que sejam venenos para as enzimas, nomeadamente metais pesados, oxidantes, produtos fungicidas presentes na encolagem e diver­sos detergentes. A presença de detergente é fundamental para a melhor molhagem do tecido e a eliminação dos produtos de degradação do amido, mas a sua escolha deve ser feita de acordo com os conselhos do fabricante da enzima.

    Esta operação pode ser efectuada por impregnação dos teci­dos com o banho enzimático imediatamente à saída da gasea­deira, actuando o próprio banho como extintor dos pontos de incandescência do tecido, seguida de enrolamento dos tecidos ao largo ou de colocação do tecido em corda em recipientes, com repouso durante algumas horas (tempo tanto menor quanto maior for a temperatura). Seguem-se os enxaguamentos, em des­contínuo ou contínuo, integrados já no processo posterior de fer­vura e branqueio.

    Caso não seja necessária uma eliminação total do amido, poderá optar-se por uma desencolagem por via oxidativa, incluída então no próprio processo de branqueio descrito mais à frente. Menos frequentes são os processos de desencolagem com ácidos e por putrefacção, por conduzirem a apreciável degrada­ção da celulose. Caso se efectue a impregnação sob vazio parcial, graças a uma bomba de vácuo que aspira o ar do tecido imediatamente antes da introdução do tecido no banho de mer­cerização, consegue-se reduzir substancialmente a quantidade de molhante. Quanto à temperatura, embora esta operação seja tradicionalmente feita a frio, obrigando a uma instalação de arrefecimento dada a libertação de calor que se dá na reacção, estu­dos recentes indicam que é também possível mercerizar a quente com bons resultados. Em nossa opinião, é supérflua a instalação de arrefecimento.

    A tensão deve ser exercida não só na fase de impregnação como muito particularmente na fase de estabilização, ou seja, na primeira fase de lavagem, na qual se vão dar as principais modifi­cações estruturais responsáveis pelas propriedades do tecido mercerizado. Essa fase de estabilização deve dar-se a uma tem­peratura elevada e o tecido só deve passar para os enxaguamentos seguintes quando a concentração de soda cáustica for inferior a 60g/l.

    Dada a afinidade de soda cáustica para com a celulose, não é possível a sua eliminação total apenas por enxaguamento. Caso seja necessário que o tecido esteja neutro para a operação seguinte, dever-se-á proceder a uma neutralização, normalmente com ácido acético, seguida dum enxaguamento final para elimi­nar o excesso de ácido.

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