Quando o Governo decide fechar a Têxtil em Portugal para abrir na China

Em Portugal, uma fibra natural, renovável e 100% nacional — a — está a ser deixada nas mãos da China.

Enquanto se fala cada vez mais em “sustentabilidade”, o último lavadouro industrial de lã do país, a Têxtil Tavares (Guarda), foi forçado a encerrar parte da sua atividade.

Lã na Têxtil Portuguesa


O que aconteceu?

👉 A autarquia decidiu tamponar o coletor da ETAR que servia a empresa, impedindo o tratamento das águas residuais e, na prática, impossibilitando o funcionamento.
👉 O resultado: Portugal deixou de ter capacidade para lavar lã.
👉 E, ironicamente, poucos meses antes, foi assinado um protocolo entre Portugal e a China (Outubro de 2024) que permite a exportação de lã não lavada.

Sim, agora exportamos lã suja para a China.
E lá, essa mesma lã portuguesa será lavada, processada e revendida ao mundo — com maior impacto ambiental e menor valor para o nosso país.

Sustentabilidade ou contradição?

Será este o futuro sustentável que queremos para Portugal e para a Europa?
A China é o modelo que queremos seguir em práticas ambientais e condições laborais?
Não seria mais sensato melhorar os processos de lavagem em Portugal, com apoio técnico e ambiental, em vez de abdicar de mais uma indústria nacional?


O que está a acontecer

  • O último lavadouro industrial do país encerrou, deixando dezenas de trabalhadores em risco de desemprego.

  • Os produtores de lã perdem um elo essencial da cadeia: já não podem entregar a lã para lavar localmente.

  • A lã portuguesa, símbolo da nossa tradição e identidade, passa agora a ser exportada em bruto para países com menor controlo ambiental.

  • As regiões rurais, já fragilizadas, perdem economia, emprego e património cultural.

Tudo isto em nome de quê?
De uma visão ambiental restritiva e burocrática, que prefere fechar portas em vez de procurar soluções técnicas viáveis.


🌍 As consequências vão muito além da lã

  • Perda de valor acrescentado e de postos de trabalho locais;

  • Aumento da pegada de carbono, com transporte internacional da matéria-prima;

  • Desincentivo à criação de ovinos e risco de abandono de raças laníferas portuguesas;

  • Dependência total de países terceiros para transformar um recurso natural nacional;

  • E uma contradição gritante: substituímos lã — uma fibra biodegradável e natural — por poliéster, uma fibra derivada do petróleo, que liberta microplásticos em cada lavagem.

Enquanto o mundo procura alternativas ao plástico, Portugal desvaloriza uma das fibras mais sustentáveis que possui.


Não é tarde para agir — mas é preciso vontade e cooperação

🧩 O que pode e deve ser feito:

  • Reabilitar ou construir uma ETAR adaptada aos efluentes da lã, com tecnologia moderna e sustentável;

  • Simplificar licenças ambientais e criar incentivos à modernização do lavadouro;

  • Apoiar o uso de produtos químicos sustentáveis, certificados por ZDHC e GOTS;

  • Criar consultoria técnica e programas de inovação ecológica;

  • Lançar um selo “LÃ PORTUGUESA – LAVADA EM PORTUGAL”, reforçando o valor local, cultural e ambiental da nossa produção.


A lã é o nosso ouro branco

Se não defendermos agora a lã portuguesa, estaremos a dizer adeus a séculos de história, conhecimento e identidade — e a entregar mais um setor à globalização descontrolada.

É tempo de sentar à mesa autarcas, técnicos ambientais, produtores e governo, e encontrar soluções sustentáveis em Portugal, para Portugal.

A sustentabilidade ambiental deve passar por fechar fábricas ou por modernizá-las?
A lã vai tornar-se uma fibra do passado do setor têxtil, ou ainda há coragem para a trazer de volta ao futuro?



#LãPortuguesa #Sustentabilidade #IndústriaTêxtil #TêxtilPortugal #InovaçãoRural #EconomiaCircular #ProduçãoLocal #TextileHeritage #ValorAdded #Ambiental #MadeInPortugal #PolíticaAmbiental #EmpregoRural 


Comentários

Mensagens populares